domingo, 23 de janeiro de 2011

Sinais da natureza, tragédias e fenômenos naturais: Um novo relacionamento do homem com natureza em tempos de mudanças climáticas.

Diversas análises podem ser feitas diante das catástrofes que ceifaram vidas recentemente na região serrana do Rio de Janeiro, onde até o momento 800 mortos e 200 desaparecidos marcam a que pode ser uma das maiores tragédias ocorridas no Brasil* como resultado de fenômenos naturais.


Dessas avaliações sempre se busca culpados quase que como parte de todo enredo que se segue após esses episódios. Falam-se mais uma vez da prevenção que deveria ser feita ou que se deve fazer no futuro.

Questiono se essa lógica isolada resultará em projetos efetivos para que se possa realmente prevenir o seguimento de fenômenos naturais em áreas de risco, afetando preferencialmente populações pobres.

Independente de qualquer decisão vinda do poder público, necessária sem dúvida, é preciso uma mudança muita mais construtiva e efetiva no sentido de uma educação da forma como o homem se relaciona com a natureza. Uma mudança muito lenta com certeza para resultados em curto prazo, infelizmente.

Parte desse novo relacionamento do homem com seu meio ambiente pode ser feito com a simples avaliação e observação da natureza e seus sinais. Os sentidos treinados ou em sintonia com o meio ambiente já foram capazes de assegurar a sobrevivência da espécie.

Nossa espécie quase foi à extinção com o fim da última era glacial 1. O clima se tornou quente e seco, provocando a redução do alimento principal da megafauna. O nível do mar começou a subir como resultado do degelo e locais aonde havia planícies com alimento, foram alagadas.

Os antepassados europeus do homo sapiens – o Cro-magnon 2 – que dominavam a região e eram habilidosos na criação de utensílios de caça começaram a entrar em decadência por volta de 10.000 AC, sentiram drasticamente as mudanças no clima.

Houve migração de comunidades de hominídeos 3 e a caça - já predatória a época - obrigou animais igualmente a se refugiarem em terras do norte de clima ainda frio. O homem era obrigado a se deslocar na direção das manadas. Era possível prever que em ambientes de escassez de alimentos não houvesse também conflitos entre homens.

Conhecer a natureza em tempos de forte mudança climática foi fundamental para a sobrevivência. Os hominídeos atuais se vêem diante de um período de aquecimento da temperatura media global 4 e o fim de um período de estabilidade climática e as vésperas de uma nova glaciação.

As comunidades atuais não poderão esperar que seus governos respondam de imediato, quando já não fizeram no passado. Somente com grandes investimentos e formação de profissionais especializados. Os governantes precisam saber ouvir a ciência 5 e as evidências da relação entre mudanças climáticas e fenômenos naturais, na forma de pesquisas e uso de tecnologia adequada que poderá amenizar seus efeitos.

O cidadão por sua vez, deve observar a natureza respeitando, por exemplo, o curso natural dos rios. Construir suas casas em locais geologicamente seguros sem degradar a natureza ao redor.

O homem 6 novamente deverá saber observar a natureza. Seus sinais estão no comportamento das marés, nas fases da lua, na mudança de estações, na migração das aves, as florações e frutificações, no aumento de populações de insetos e pragas, nas doenças antigas e novas. São sinais subjetivos, que dependem muito da intuição, mas que provavelmente os sábios do passado souberam aproveitar e interpretar, salvando seu grupo ou tribo.

Se podemos sempre tirar lições de tragédias e aprendermos com a adversidade, devemos ser capazes de mudar nosso comportamento, com a velocidade da sociedade da informação. Uma nova mentalidade deverá surgir. Devemos ter a compreensão de que fazemos parte de um universo, onde a vida é um evento raro e regido pelas regras da natureza, que a ciência pode nos traduzir.

* A tragédia da Serra das Araras, no km 54 da rodovia presidente Dutra, ocorrida em 1967, possui estimativas contraditórias. A falta de recursos da época e a censura à imprensa do regime militar. Estima-se que foram 1.500 mortos. http://diariodovale.uol.com.br/noticias/4,34411.html#axzz1BuRhyr2p

Referencias:

1) Wisconsin glaciation – The Chemistry Encyclopedia: http://www.chemistrydaily.com/chemistry/Wisconsin_glaciation

2) Origens of Humankind – Evolution Home : http://www.blogger.com/goog_273705225

3) Y-Chromosome Evidence for a Northward Migration of Modern Humans into Eastern Asia during the Last Ice Age. SU, BING et al. The American Journal of Human Genetics, Volume 65, Issue 6, 1718-1724, 1 December 1999

4) Alterações climáticas – Grenproject: https://sites.google.com/site/greenprojectcom/Pgina-inicial/mudancas-climaticas-naturais

5) Climate Change and Natural Disasters: Scientific evidence of a possible relation between recent natural disasters and climate change : http://www.europarl.europa.eu/comparl/envi/pdf/externalexpertise/ieep_6leg/naturaldisasters.pdf



6) The evolution of man – BBC home: http://www.bbc.co.uk/sn/prehistoric_life/human/human_evolution/



Links para saber mais:

Mudanças Climáticas Globais e Educação Ambiental: http://mudancasclimaticas-educacaoambiental.blogspot.com/

Fator Ambiental: http://www.fatorambiental.com.br/index.html

sábado, 1 de janeiro de 2011

Menos reptilidade em 2011.


A indução propicia o progresso da Ciência à custas de riscos que lhe são inerentes. Representa uma generalização com base na observação de um mesmo fato que se repete. Se se repete, repertir-se-á sempre e da mesma maneira, imagine-se. Sim isso só é verdade se as circunstâncias que acompanharam os fatos primeiramente observados se repetirem nos fatos subseqüentes. É preciso ainda acreditar que a natureza não seja caótica, desordenada, desarmônica, intimamente sem leis e sem regras. Temos de crer na unidade e na regularidade da natureza.”

Newton Freire-Maia in ‘A Verdade da Ciência e Outras Verdades’

A proposta de classificar um conjunto de áreas do cérebro baseada numa neuroanatomia comparada evolutiva dos vertebrados foi proposta em 1960 pelo neurocientista Paul D. Macclean, conhecida como cérebro triuno. Neste conceito, partes do encéfalo dos vertebrados atuais acumulam sistemas primitivos herdados pela evolução.

Sua aceitação no meio científico não é uma unaminidade entre as áreas de estudos afins, no entanto é aceita pela psicologia como uma forma de compreender o comportamento. Segundo McLean, o cérebro, do ponto de vista evolutivo, pode ser dividido em três partes (cérebro triuno).



Cérebro protoreptílico - eixo fundamental do sistema nervoso central e o mais primitivo: medula espinhal, tronco cerebral, diencéfalo e núcleos da base. Seriam originais dessa região, comportamentos estereotipados baseados em memórias e aprendizagem ancestrais, intuitivos; de defesa, agressividade, dominância, territorialidade e dos rituais de exibição.



Cérebro paliomamífero - sistema límbico é composto pelo hipocampo, amígdala, hipotálamo, estruturas periventriculares. Mecanismos básicos para o autoconhecimento e das condições internas do corpo. Motivação e emoção são complexos sentimentos elaborados em conjunto com o córtex superior.



Cérebro neomamífero ou neocortex - córtex cerebral (principalmente o córtex frontal), proeminente em primatas. Responsável pelas funções cognitivas, análise do meio externo. Nesta região são realizadas os processos cognitivos complexos. Estariam aqui a habilidade de linguagem; abstração; planejamento e percepção.

O intuito desde post de final de ano não é discutirmos profundamente este empolgante tema da evolução do cérebro e se a hipótese de Mcclean está correta diante das novas técnicas de estudo utilizadas pela neurociência. Deixaremos para outra oportunidade.

Vamos por enquanto utilizar nosso neocortex para refletir sobre nossas reações primitivas ou reptilianas diante do debate entre ciência e religião, que nos últimos anos fervilham em blogs pela internet. Uma discussão que a meu ver está ganhando todo tipo de cores e paixões políticas quase “futebolísticas” quando são vistas ofensas desmedidas de ambas as partes.

A internet permite uma arena de discussão democrática em que representantes leigos opositores trocam certezas e defendem verdades absolutas; com muito pouca limitação encontrada nos debates acadêmicos. Não se encontra, portanto, uma real diferença no modo de pensar a realidade e de compreender os fenômenos da natureza, com explicações diferentes. A postura dos debatedores, quase sempre, não define de forma clara essa diferença.

A forma de a religião explicar a natureza e a realidade merece seu respeito e é possível encontrar contribuições igualmente importantes para a humanidade. Se fundamentalismo é o que chama mais atenção e faz mais barulho nos debates, não é representante do pensamento religioso.

Da mesma forma, o sectarismo daqueles que defendem mais que apaixonadamente uma forma de pensamento científico como uma verdade absoluta, de forma proselitista; para justificar seu ceticismo, não é conhecedor das limitações impostas pelo método científico.

Minha esperança para 2011 é de menos reações primitivas, reptilianas daqueles que defendem suas “verdades” e o reconhecimento que nossas representações da realidade são realmente uma projeção de nossa percepção do mundo, cheia de limitações.