segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Células adultas já podem substituir células tronco embrionárias?

Em artigo publicado este mês na revista Science com o título: “A Seismic Shift for Stem Cell Research”; (1) informa que apesar do avanço conquistado com pesquisas de células tronco originárias de células de pele, os cientistas ainda necessitam utilizar as células tronco embrionárias para suas pesquisas. Escrevem Constance Holden e Gratchen Vogel para Science.

Há um ano cientistas trabalhando em dois grupos; um nos EUA e outro no Japão publicaram os primeiros resultados do que poderia ser a solução de várias questões éticas que envolvem a pesquisa com células tronco embrionárias. (2)

Através de duas técnicas distintas; uma em que se transfere clones de células da pele para o interior de óvulos enucleados - chamada de somatic cell nuclear transfer (SCNT) – grupos do EUA e Japão obtiveram células embrionárias. Um segundo grupo no EUA (Grupo de Harvard) obteve células embrionárias (pluripotenciais apenas) através da introdução de material genético carreado por retrovírus (transfecção) nas células de pele. Esta técnica foi chamada de células tronco pluripotenciais induzidas (iPS)

Aparentemente os problemas bioéticos (3) e religiosos estariam resolvidos, pois assim não seria necessária a utilização e produção de embriões, uma vez que essas células tronco apresentariam comportamento embrionário, ou seja, podem ser replicadas e diferenciadas em tecidos. Os grupos contrários logo se apresaram em comemorar o que poderia ser considerado uma – vitória da moral – afirmando que a discussão acabou.

Entretanto, o artigo alerta para a cautela quanto à utilização das células induzidas por retrovírus e sua segurança em seres humanos. A outra questão é quanto à potencialidade dessas células quando comparadas com as derivadas de embriões. “Para validar as células iPS, cientistas devem fazer enorme esforço (numerosos) ...de muitas diferentes populações e compara-las numa bateria de testes com células tronco embrionárias humanas” Destaca o artigo a declaração de Kevin Eggan da Universidade de Harvard.

Pode-se observar que diante das restrições as pesquisas com impedimentos legais e restrição de verbas; as alternativas criadas pela ciência - mesmo que aceitáveis do ponto de vista ético-moral - podem não ser tão efetivas; criar atraso na pesquisa com técnicas comprovadamente promissoras (6) e criar caminhos para novas técnicas com segurança questionável.

Luiz Cláudio - médico

Referencias:

1) A Seismic Shift for Stem Cell Research: Constance Holden and Gretchen Vogel; Science 1 February 2008: Vol. 319. no. 5863, pp. 560 – 563 DOI: 10.1126/science.319.5863.560

2) Cientistas produzem célula-tronco embrionária sem embriões http://br.reuters.com/article/topNews/idBRB24679120071121

3) Pesquisa com células tronco: José Roberto Goldin http://www.bioetica.ufrgs.br/celtron.htm

4) Vídeo educativo em português sobre células tronco: http://www.youtube.com/watch?v=pTrwVJ7ctFQ

5) Página informativa do governo do estado do Rio: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/biologia/bio10a.htm

6) Muscular Dystrophy in Mice Treated with Muscle from Mouse Embryonic Stem Cells: Nature advance online publication, laboratory of R.C.R. Perlingeiro. 2008 Jan 20

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Um Novo Tipo de Ciência

O polêmico tema da origem da vida na terra ultrapassou os limites da biologia teórica e teologia para ser objeto de estudo de cientistas computacionais.

The New Kin of Science, livro escrito por Stephen Wolfran publicado em 2002 e disponível em http://www.wolframscience.com/nksonline/toc.html propõe uma novo ramo de estudos em ciência onde regras muito simples podem gerar sistemas complexos.

A idéia central assemelha-se aos objetivos da Biologia Teórica que tenta explicar a natureza através de modelos matemáticos e ferramentas computacionais. Da observação de resultados gerados por modelos computacionais simples é possível, por exemplo, criar modelos para explicar a origem da vida e a evolução das espécies.

O suporte para essas modelos utiliza os conceitos da Matemática Discreta. Um dos modelos mais utilizados é o do Autômato Celular. Resumidamente nesses modelos aplicam-se conjuntos de regras simples conhecidas a um número infinito de células e observa-se seu comportamento num espaço de tempo t.


As aplicações desse novo tipo de ciência – sem um nome especifico ainda – são as mais diversas e incluem a pesquisa de novos medicamentos; comportamentos de células tumorais; resistência a antimicrobianos; inteligência artificial aplicada medicina só para citar possibilidades na minha área de estudo.


Wolfran acredita como os biólogos que sistemas complexos, como os seres vivos, possuem um antepassado mais simples, que submetidos a regras específicas, tendem a se organizar de forma a responder essas regras, num novo tipo de sistema. Em computação esse novo sistema pode ser a realização de uma tarefa simples como ligar ou desligar um programa quando esse atingir seu objetivo.

Contraria o dogma de que sistemas complexos só podem ser originados de outros sistemas igualmente complexos. O oposto do que se espera das teorias onde a existência de um “projetista” ou “ser supremo” originou a vida; hipótese que não pode ser comprovada ou refutada pela ciência.