terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Einstein e a Intuição




“Dificilmente temos consciência do que é significativo em nossa própria existência. Que sabe um peixe sobre a água em que nada a vida inteira?
O amargo e o doce vêm de fora, o penoso vêm de dentro, de nossos próprios esforços. Na maioria das vezes, faço aquilo a que minha natureza me impele... Setas de ódio também foram disparadas contra mim; mas nunca me atingiram, porque de algum modo pertenciam a um outro mundo, com o qual não tenho nenhuma ligação.
Vivo naquela solidão que é penosa na juventude, mas deliciosa nos anos da maturidade.”

Auto-retrato(1936) – Albert Einstein – Escritos da Maturidade – 5ª.ed. Edit. Nova Fronteira – 1994

O grande gênio da ciência um dia assim resumiu sua vida. Einstein já vivia a contestação de parte de suas idéias pela comunidade de físicos na época, principalmente daqueles que o achavam ultrapassado. Mesmo assim, a Teoria da Relatividade permanecia sólida o bastante e o que se discutia eram suas derivações.... setas de ódio também foram disparadas contra mim...

Mas é possível também perceber como a solidão foi sua companheira durante a vida. Não a solidão do estar só, mas o isolamento que parece ter lhe proporcionado usar tão produtivamente o método intuitivo.

A intuição é o ato de ver, perceber, pressentir. Mesquita Filho(1) tratou bem da intuição: “Digamos que refere-se ao "insight" ou estalo ou, ainda, à "percepção de alguma coisa estranha", não notada nas outras vezes em que se observou o mesmo objeto ou fenômeno”.

O cientista percebe a natureza de modo diferente, o que pode suscitar o entendimento que o processo carrega algo de sobrenatural e irracional. Uma impressão equivocada, que acabou marcando não só o método, mas aqueles que o usaram brilhantemente como Newton, Einstein e outros grandes.

Uma imagem exótica e muitas vezes "fora da realidade" atribuída ao cientista. Ou ainda, um caráter messiânico e místico presentes nesses gênios. Mas essa pode ser uma visão enganosa.

Descobrir os segredos da natureza requer muitas vezes do cientista um perfil de homem focado no problema em questão, preso ao método científico e o uso de conhecimento prévio até os limites de sua explicação. O isolamento é inevitável muitas vezes.

Segundo Rohden(2) : Einstein acreditava que “a verdadeira certeza não é o resultado de uma série de processos empíricos analíticos como pensa o comum dos cientistas, mas provém em ultima análise, de uma direta e imediata intuição a priori, dedutiva, oriunda do puro raciocínio, e não derivados dos sentidos da mente.” .

A intuição pode fazer parte do caminho seguido pelo cientista na busca do conhecimento e não possui caráter extraordinário, naqueles que aprenderam a pensar cientificamente.
Para saber mais:
2) Einstein - O Enigma do Universo; de Uberto Rodhen - Ed. Martin Claret - São Paulo/2006

domingo, 4 de novembro de 2007

A mais nobre tradição científica

"A verdade é filha do tempo, não da autoridade."
Francis Bacon.

A comunidade científica está constantemente revisando trabalhos publicados. Artigos antigos podem gerar novas idéias e pesquisas. Outras vezes, observam-se equívocos e conclusões ultrapassadas.
Um exemplo recente do Professor de química do Brocklyn College, EUA, Dr. Homer Jacobson, fez uma revisão de seu artigo publicado em 1955 na revista American Scientist, com o título - Information, Reproduction and the Origin of Life – Informação, reprodução e origem da vida.
O artigo questionava a probabilidade de que moléculas se organizassem a ponto de gerar vida, nas condições da terra no período Hadeano (primeiro da escala geológica), era muito improvável.
As conclusões geradas pelo artigo registraram uma febre de citações no Google, não em revistas científicas como gostaria o Dr. Jacobson, mas em sites e blogues “Criacionistas”, utilizado como argumento contra a teoria da Evolução de Darwin.
Repercussões teológicas a parte, o Dr. Jacobson fez uma carta à revista Scientist American, retratando suas conclusões.
A discordância entre os cientistas em assuntos polêmicos que geravam repercussões teológicas já se repetiu outras vezes. Nos trabalhos que surgiram após a publicação da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, isso aconteceu.
Einstein acreditava num universo constante e imutável, que sempre existiu. Entretanto, interpretações matemáticas da própria teoria da Relatividade Geral apontavam o contrário.
Um padre católico Georges Lemeitre estudando as teorias de Einstein, sugeriu um universo em expansão ao mesmo tempo em que surgiria de uma grande explosão, de um átomo primordial.
Em 1952, o Astrônomo Edwin Hubble provou que o universo estava em expansão e derrubou a idéia de constância do Einstein. O papa PIO XII interpretou como prova da existência de um Criador - com total oposição de Lemeitre - que afirmava que suas idéias eram meramente derivações matemáticas das equações de Fridmamm a partir das equações de Einstein e nada tem haver com o Livro dos Gêneses.
O que é certo que para o bem da ciência todo conhecimento científico é mutável e passível de contestação diferentemente do dogmatismo teológico.

domingo, 28 de outubro de 2007

DNA, genes e....preconceito!

"...estou inerentemente pessimista quanto às perspectivas da África" porque "todas as nossas políticas sociais estão baseadas no fato de que a inteligência deles é a mesma que a nossa – enquanto que todos os testes dizem que não é assim.."
Declarou o prémio Nobel de Medicina e Fisiologia de 1962, Dr. James D. Watson. A declaração racista provocou a reação da comunidade científica. É inegável a importância do artigo de 1953 - (Molecular Structure of Nucleic Acids. April 25, 1953 Authors: Francis Crick, James Watson - Nature) para a compreensão da estrutura do DNA e sua repercussão na Biologia e Medicina. Entretanto, declarações de Watson como essas, além de preconceitusosas, apresentam-se devidamente superadas pelo seu viés racista.
O método científico proporciona as ferramentas necessárias para refutar as teorias eugênicas contidas nas declarações de Watson.
Segundo Karl Popper:
"...a teoria científica será sempre conjectural e provisória. Não é possível confirmar a veracidade de uma teoria pela simples constatação de que os resultados de uma previsão efectuada com base naquela teoria se verificaram...O que a experiência e as observações do mundo real podem e devem tentar fazer é encontrar provas da falsidade daquela teoria. Este processo de confronto da teoria com as observações poderá provar a falsidade (falseabilidade) da teoria..."
Há vários princípios errados na teoria da raça superior, mas o principal delas é o seu viés racista, mas que infelizmente fascina alguns biólogos e políticos.

O mundo assombrado pelos demônios

A queda das Terras Gemeas no 11 de setembro de 2001 representa um marco de vários conflitos vividos pela humanidade e repercutirá por muito tempo como resultado do fanatismo armado de terrorismo. Mas o fanatismo, a intolerância e o ódio contra a diversidade de pensamento não é exclusivo de uma determinada religião. A humanidade é marcada por momentos semelhantes ao 9/11. Um deles foi a inquisição. No capítulo magistralmente escrito por Carl Sagan com o mesmo título do livro - O mundo assombrado por demônios (Cia. das Letras - 1998 ) retrata um mundo de superstições, intolerância e ignorância , povoado de bruxas e demônios.
Não é difícil ver hoje outros demônios na forma de homens bombas assombrando e sua utilidade política - o domínio pelo medo. O medo que é filho da ignorância e do preconceito.
A humanidade pode enfrentá-los de duas formas - no refúgio de suas casas cheias de trancas ou saindo pelo mundo questionando suas causas, promovendo o debate na busca da compreenção e solução. A ciência pode contribuir de forma decisiva nesta luta contra os "demônios"!

Um salto gigantesco para a humanidade

Em 1969 eu tinha quatro anos. Algo de extraordinário acontecia no mundo e seus reflexos chegavam em minha casa. Daquele meu pequeno mundo só restam poucas lembranças; mas dois momentos marcaram minha vida. Ganhei um pastor alemão de nome Apolo e um desenho feito carinhosamente por meu pai com os estágios desde o lançamento até o pouso na lua da missão Apolo 11. "Este é um pequeno passo para um homem, mas um salto gigantesco para a humanidade" a frase de Neil Armonstrong - primeiro homem a pisar na lua - dava a dimensão daquele momento em nossas vidas. Eu repetia aquele desenho de meu pai em minhas brincadeiras, tentando enteder cada passo, cada implicação daquele projeto da humanidade. Compartilho de uma geração que teve no início de suas vidas a forte presença da tecnologia. Acreditávamos que tudo podiamos alcançar e que tudo era explicável , bastava vontade, empreendimento e a paixão pela aventura proporcionada pela ciência.