domingo, 1 de novembro de 2009

Complexidade diante dos olhos.

Há poucos dias uma rotina do consultório, exame e emissão de laudo sobre as competências visuais de um cliente, despertou-me uma série de considerações sobre nossa capacidade de perceber nossas aptidões sensoriais no cotidiano e até que ponto elas nos são úteis.

O cliente em questão era candidato a EPCAR – curso de excelência do ministério de defesa para formação de cadetes – e futuro aviador. Dada às aptidões que um piloto deve possuir, é compreensível o nível de exigência cobrado dos candidatos.

Realizados os testes de praxe; de acuidade visual; passamos por outros que analisamos a saúde e a fisiologia do globo ocular e chegamos aos que determinam o quão harmonioso nossos dois olhos interagem para dos fornecer a Visão Binocular.

A perfeita integração da imagem que chega aos dois olhos deve inicialmente possuir uma qualidade mínima que permita; aos centros corticais que recebem os potenciais de ação gerados nos fotorreceptores da retina; a percepção de uma imagem única.
Imperfeição nos meios por onde a luz passa – córnea; cristalino; humor aquoso; vítreo e retina – podem impedir que a imagem se forme de acordo com o modo que o cérebro aprendeu a perceber a realidade.

Se uma imagem nítida fez parte desse aprendizado; desde os primeiros meses de vida; estimulando simetricamente as células da retina dos dois olhos; gerando vias facilitadoras ao escoamento da informação – sinapses – entre as células da via óptica até seu centro cortical; estas serão o padrão de referência para ativação adequada do sistema.

Em outras palavras – inconscientemente nos recebemos uma imagem nítida de um olho e uma imagem igualmente nítida de outro olho e realização a sobreposição ou interpretação de uma única imagem. Esse fenômeno é chamado de reflexo de fusão.
Espera-se que imperfeições dos meios como as ametropias – hipermetropias, astigmatismo; miopias – estejam adequadamente corrigidas ou compensadas por esforço do seu portador; para que essa integração ocorra.

Outro requisito importante à fusão das imagens e o alinhamento adequado dos olhos para que a imagem do objeto de atenção possa ser a mesma a chegar a ambas as retinas. Se um olho estiver alinhado com o eixo visual e o outro adotar qualquer outra posição que não seja esta, duas imagens diferentes chegarão à retina. Isso provoca, de acordo com o grau de desvio, sintomas desconfortáveis, o principal deles e a percepção de imagens duplicadas - a diplopia.

Isso ocorre porque existe uma correspondência entre grupamentos de fotorreceptores de um olho que funcionam em correspondência espacial com grupamentos de outro olho. Imagens que chegam aos olhos estimulam grupamentos posicionados na mesma região. Depois de estimuladas; ás células fotorreceptoras enviam seus potenciais de ação de forma a representar essa projeção espacial até o córtex occipital área responsável pelo processamento visual e integração com outros centros cognitivos.

Para entender melhor a correspondência retiniana; imagine que sempre que você quisesse telefonar para um amigo ou parente, você estabelecesse certas regras para iniciar a comunicação que lhe permitisse saber exatamente o posicionamento de seu interlocutor, com ambos virados para o sul, sentados em seu quarto no terceiro andar do seu prédio, que fica no mesmo nível do mar; com ambos vestindo vermelho; etc.

Essas informações permitem que as imagens que chegam ao cérebro carreguem não só características de luminosidade; cor; tamanho; mas igualmente seja uma representação posicional do ambiente. Mas ainda, se objetos de movem no campo visual. Isso só é possível diante de uma citoarquitetura hierarquicamente projetada até o cérebro.

Então, antes de voltar ao nosso candidato a piloto, vamos complicar mais um pouco. Imagine que você observa um ponto no espaço. Seus olhos estão alinhados e você o percebe como único. Uma linha imaginária passa por esse ponto e chega a um grupo celular da sua retina. Outra linha liga esse ponto a grupos celulares correspondentes da outra retina. Ambas as linhas se encontram neste ponto, mas devido à separação entre os olhos, essas linhas se cruzarão neste ponto. Na realidade, se nesse momento você olhar para sua sala de estar e não estiver vendo coisas duplicadas e porque para cada ponto que olhas, essas linhas se cruzam.

Você já percebeu que para qualquer ponto que olhar esse ponto único está lá. Agora imagine a união de todos esses pontos formando um plano, na verdade formando uma superfície imaginária tridimensional onde todos os pontos são percebidos como único – esse plano no espaço se chama horóptero.

Uma nuvem de pontos no espaço está ao redor do horóptero e também são percebidos como únicos. Essa região do espaço é chamada de área de Panun, a diferença que essa região fornece a sensação de visão única.

Agora realize o seguinte experimento. Pegue um lápis e estique seu braço de modo que o lápis fique na vertical. Do mesmo modo com a mão esquerda pegue outro lápis e deixe-o a meia distância entre o da mão direita, mas no mesmo eixo de visão e tente sobrepor-los. Você instintivamente tenta fechar um dos olhos. Com os dois olhos abertos você percebera um deles sempre duplo. Essa e a diplopia fisiológica e estimula áreas não correspondes, mas muito próximas.

Esse fenômeno permite a sensação de posição relativa de objetos no espaço através da visão binocular. O experimento acima é um teste grosseiro da capacidade estereoscópica, mas outros mais sofisticados podem avaliar melhor essa função.

É compreensível a cobrança de níveis elevados de integridade visual e harmonia entre os olhos para os futuros aviadores. A diferença entre ter ou não essas habilidades pode ser crucial num momento de crise e na tomada de decisão.

Para saber mais:

1) MOGO, S. Intrdução a Introdução ao estudo da visão binocular - Análise Optométrica Departamento de Física Universidade da Beira Interior. 2007 / 08

Bibliografia:

1) NOORDEN, Gunter K von. Binocular Vision and Ocular Motility - Theory and Management of Strabismus. fifth edition, Mosby, Houston, Texas, 1995

3 comentários:

  1. Olá Sr. Luiz, agradeço a visita ao meu blog e agradeço também ao comentário. As referências estão logo abaixo, no final do artigo. Mas trago alguns aqui:

    a) Schweitzer, M. and T. Staedter,1997 The Real Jurassic Park, Earth, June pp. 55-57.

    b) Schweitzer, Mary H., Mark Marshall, Keith Carron, D. Scott Bohle, Scott C. Busse, Ernst V. Arnold, Darlene Barnard, J. R. Horner, and Jean R. Starkey 1997A Heme compounds in dinosaur Trabecular bone Proc. Natl. Acad. Sci. USA Vol. 94, pp. 6291-6296, June
    http://www.pnas.org/cgi/content/abstract/94/12/6291

    c) Schweitzer, Mary H., Mark Marshall, Darlene Barnard, Scott Bohle, Keith Carron, Ernst V. Arnold, Jean R. Starkey 1997B Blood from a Stone, Dinofest International 101-104

    d) Schweitzer, M.H., Johnson, C., Zocco, T.G., Horner, J.H., Starkey, J.R., 1997C Preservation of biomolecules in cancellous bone of Tyrannosaurus rex, Journal of Vertebrate Paleontology, Volume 17, No. 2, June 19. 349-359

    e) Schweitzer, Mary Higby, John R. Horner 1999 Intrasvascular microstructures in trabecular bone tissues of Tyrannosaurus rex, Annales de Paléontologie Volume 85, Issue 3, July-September , pg.179-192.

    A FONTE "b" supracitada é a única que está disponível para download, pois as outras foram publicadas apenas em versão impressa, geralmente pela Society Vertebrate Paleontology, onde, neste caso, fiz uma citação de autores que tiveram acesso a fonte.

    Enfim, o tema é polêmico e intrigante, uma vez que depois que a Dra. Mary H. Schweitzer publicou seu trabalho, recebeu uma "chuva" de questionamentos e, consequentemente, céticos tentando comprovar que ela estaria errada em suas conclusões, enfim. Os argumentos contra suas evidências, parecem, até o presente momento, ter origem em meros questionamentos sem argumento ou evidência contrária. Me disponho a debater o assunto tão logo queira.

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  2. Grato pelos parabéns que fez ao blog "criacionista pela Fé e pela Razão", ainda mais vindo de alguém que não professa a mesma ideologia.

    Só esclarecendo, o Michelson, pelo que sei, teve que bloquear comentários em seu blog pq vinha tendo muitos problemas com alguns "meninos e meninas de Darwin" mal educados, que vinham dando suas opiniões sobre criacionismo vs evolucionismo da forma mais baixa possível, utilizando-se de palavrões. Ele não tinha/tem tempo para ficar mediando e respondendo a grande quantidade de comentários, infelizmente. Se o pessoal fosse mais educado, penso que não seria um problema os comentários, mas sim, um prazer para o Michelson (e outros blogueiros, como eu, por exemplo)

    Mas pelo visto, vc é um ateu bem comportado e gosta da procura pela verdade, sem o apego doentio a paradigmas. Isso é louvável, parabéns! Afinal, uma boa discussão deve ser dirigida por respeito mútuo das partes envolvidas. Esse é primeiro passo para se chegar a um consenso sadio e coerente com a verdade.

    Agradeço ainda pela consideração pela cultura dos adventistas, a qual sou participante a pouco tempo, mas já tenho grandes benefícios com isso, tais como saúde física, mental e espiritual.

    Conforme sugerido, o propósito deste humilde blog é (por meio do compromisso com o profissionalismo e a ética, mas sobretudo um compromisso com Deus) e sempre foi mostrar que o evolucionismo não é um fato científico e que a Teoria da Criação faz muito sentido e vem sendo corroborada com as evidências (design inteligente) encontradas na natureza, por meio de estudos científicos, e eternamente confirmada pela Bíblia. Isso pq é a associação coerente entre o conhecimento científico e a Palavra de Deus, uma vez que ambos são proporcionados pelo Criador (que nós, cristãos, acreditamos que seja o Deus Jeová, descrito na Bíblia).

    Não se deve confundir ética com omissão à verdade, pois a verdade deve ser dita, custe o que custar. O respeito às ideologias diversas que existem por aí, tanto sobre ciência como sobre religião, é válido para nós adventistas/criacionistas; mas nosso compromisso com a verdade e a leva dessa verdade ao mundo é prioridade. Leia as três mensagens que o povo de Deus ficou incubido de repassar ao mundo em Apocalipse 14:6-12.

    Mesmo vc não crendo em Deus, desejo que o Espírito Santo de Deus toque seu coração (mente) e o leve a ter um pleno conhecimento sobre a verdade. "E conhecerei a verdade, e a verdade vos libertará" (João 8:32).

    André Luiz Marques

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  3. Luiz, obrigado muito, pelos comentários e, claro, pela visita.
    Para você, que é da área, porque se vendem óculos em ÓTICA e não, aparelhos para surdez? Alguém tem otite nos olhos?

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