quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Detecção precoce do estrabismo e tratamento imediato.

“A vida tem a nos oferecer coisas que somos incapazes de ver durante algum tempo, porque é preciso fazer grande esforço para sair da câmara escura em que muitas vezes a infância nos colocou. Mas, quando a pessoa vê a luz, não consegue esquecê-la”. Isabelle Adjani – Atriz francesa



O estrabismo é um distúrbio da motilidade ocular e do alinhamento dos olhos;  é uma doença que tende a acometer a parcela mais nobre e indefesa de nossa população que é a infância. Agravando-se ainda mais por surgir nas fases iniciais de desenvolvimento, afeta não só o desenvolvimento da visão, mas de todas as outras habilidades em desenvolvimento neste momento, como a capacidade motora e o aprendizado (1) (2) (3).

               As adaptações do sistema nervoso em desenvolvimento diante do desalinhamento dos olhos são graves a ponto de suprimir a visão no olho estrábico - ambliopia - e levar a perdas progressivas da capacidade visual e da noção espacial de profundidade.  (2) (4)

               Não bastassem as perdas sensoriais, que afetarão a qualidade de vida futura gerando limitações profissionais, a criança sofre ainda desde seus primeiros contatos sociais, a discriminação diante do defeito estético e todos os transtornos psicológicos gerados por uma socialização negativa no ambiente escolar. (5) (6)

               Nesse processo, os profissionais de saúde de todos os níveis e especialidades voltados à atenção infantil são conhecedores de suas responsabilidades na detecção e prevenção da cegueira. Uma luta contra o tempo, uma vez que sabemos que cada dia de desenvolvimento anômalo deve ser igualmente compensado com igual tempo de estimulação adequada. Em outras palavras, se foram dois anos sem tratamento, podem ser necessários até mais dois anos ou mais de tratamento para uma recuperação (7) (8) (9).

               O que nos estimula como oftalmologista é que diariamente constatamos recuperações e até mesmo cura de alguns casos em boa parcela de crianças que chegam até nos em tempo hábil suficiente e semelhantes aquelas encontradas nos diversos estudos.  (10) (11) (12). Mas há um tempo curto para esses resultados que é a primeira década de vida. Uma verdadeira corrida contra o tempo.

               Programas de triagem, treinamento de profissionais de outras áreas como educadores e igual suporte de recursos aos profissionais que darão a atenção final não são mais custosos do que os gastos sociais e econômicos gerados pelo paciente não tratado na idade adulta ou aos riscos de cegueira por acometimento do olho são, que ocorre nesta população.  (8)

               Óculos, tratamento ortóptico, consultas de acompanhamento e cirurgias de estrabismo representam a totalidade dos tratamentos. Quase nunca necessitamos de implante de próteses, exames caros e sofisticados e medicamentos de alto custo. Isso não nos faz melhor ou pior que as outras especialidades, mas nos diferencia em termos de resultados e custos (7). (13) (14)

               Temos certeza que todo nosso esforço e atenção resultarão não só numa melhor qualidade de vida aos pequenos, mas um sorriso no rosto daqueles que cuidarão de nos no futuro.
Luiz Cláudio Santos de Souza Lima

  Referências:

1. Grant, Simon, DR, Melmoth e AL, Finlay. Prehension deficits in amblyopia. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2007 Mar;48(3):1139-48.

2. PARKS, MARSHALL M. Binocular Vision Adaptations In Strabismus. [book auth.] Duane. [ed.] Willians Tasman and Eduard A. Jaeger. Duane´s Ophtalmology on CD-ROM. Version 3.1. Philadelphia : J.B. Lippincot Company, 1995, Vol. Vol 1, 8.

3. R, Karadag, R, Yagci e M, Erdurmus. Ocular findings in individuals with intellectual disability. Can J Ophthalmol. 2007 Oct;42(5):703-6.

4. KARATAS, M. Internuclear and supranuclear disorders of eye movements:clinical features and causes. Eur J Neurol. Sep 1 de 2009, Vol. 16(12), pp. 1265-77.

5. Archer, Steven M. Social and emotional impact of strabismus surgery on quality of life in children. J AAPOS. 2005 Apr;9(2):148-51.

6. G, Wen, McKean-Cowdin, Roberta e Tarczy-Hornoch, Kristina. General health-related quality of life in preschool children with strabismus or amblyopia. Ophthalmology. 2011 Mar;118(3):574-80. Epub 2010 Sep 29.

7. Almeida, Luciana Ottaiano Cerântola de. Análise do custo do tratamento da ambliopia para o paciente em hospital universitário. Arq. Bras. Oftalmol. vol.68 no.4 São Paulo July/Aug. 2005.

8. Oliveira AM, Fernandes BM, Costa L, Lima A, Couto Junior AS, Portes A. Detecção de ambliopia, ametropias e fatores ambliogênicos em comunidade assistida por Programa da Saúde da familia, no Rio de Janeiro, Brasil. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (2): 110-13.

9. PRIETO-DIAZ, JULIO e SOUZA-DIAS, CARLOS. Motilidade Ocular. [A. do livro] JULIO PRIETO DIAZ e CARLOS SOUZA DIAS. Estrabismo. 4a. São Paulo : Santos, 2002b, pp. 63-148.

10. HELVESTON, EUGENE M., et al. Results of Early Alignment of Congenital Esotropia. Ophthalmology. 106, 1999, pp. 1716-1726.

11. Negreira, P, E, Cecilia e Rodrigues, L et all. Rehabilitación visual en niños ambliopes / Visual rehabilitation of amblyopic children. Rev. cuba. oftalmol;22(2):34-42, jul.-dic. 2009.

12. DROVER, JR, et al. Improvement in motor development following surgery for infantile esotropia. J AAPOS. Apr;12(2):136-40.EPUB 2007, 2008.

13. Beauchamp, Cynthia L e Felius, Joost. The economic value added (EVA) resulting from medical care of functional amblyopia, strabismus, (pathologies of binocular vision) and asthma. Binocul Vis Strabismus Q. 2010;25(4):206-16.

14. FERREIRA, LUIS EURICO. Tratamento Óptico e Farmacológico. [ed.] Centro Brasileiro de Estrabismo. Santos : RC Editoras, 2001, pp. 333-339.


Nenhum comentário:

Postar um comentário